O começo do fim: Estágio Supervisionado
Mais um semestre de trabalhos se inicia e com ele muitas preocupações, dúvidas e anseios. Da prática à teoria e assim começamos uma jornada em busca de uma teoria prática. Fazer mais do que falar. Ousar mais do que sonhar. Correr mais do que cansar! Eis nosso grande desafio. Praticar, praticar, praticar.
Não estou com medo do estágio. Estou com receio. Parece que quando pensamos demais que nada pode dar errado nosso íntimo atrai coisas altamente produtoras de catástrofes. Tive apenas um mês de férias devido ao trabalho na Secretaria de Educação e neste período de descanso imaginei muitas coisas lindas. Visualizei o brilho nos olhos das crianças, nos meus, nos olhos da equipe da UFRGS... Não é que recebi um daqueles desafios que não estava previsto em nenhum de meus planos para as arquiteturas que serão aplicadas no período de estágio? Antes mesmo de minha prática assistida começar já pensei em trocar de turma, escola, de cidade...
Tenho me consumido numa dor diária entre a incompreensão, impaciência e a vontade de gritar as leis que não são respeitadas em sua essência. Ser professor num universo de disputas e atitudes paliativas não funciona. Não temos nem auxílio para acompanhamento e tratamento de nossa saúde mental!
No ano de 2009 passei 200 dias letivos tentando me comunicar com meu aluno surdo, tinha doze anos e fora inserido numa turminha de primeiro ano para ser alfabetizado. No final do ano, na véspera das férias é que conseguimos ajeitar a vida deste garoto com a oportunidade de estudar em uma escola baseada na Língua Brasileira de Sinais. (Sobre este caso dê uma passadinha no Dossiê de Inclusão) Sabe o que aconteceu? Neste ano o vi perambulando pela escola. Está no segundo ano escolar sem as mínimas condições de igualdade e oportunidade graças a sua mãe que grávida do décimo terceiro filho não levou o menino para avaliações na escola Lilian Mazzeron em Porto Alegre. O Conselho tutelar já fora notificado várias vezes e nada. A última informação que tive era de que a promotoria seria acionada para acusar criminalmente a mãe. Enquanto isso na escola...
Tudo isto para dizer que este ano ganhei outro desafio de arrepiar os cabelos ou perdê-los de vez. Em minha turma tenho uma garotinha de seis anos com Síndrome de Down e tudo aquilo que a Trissomia do 21 traz consigo. Um gene a mais, uma história diferente de muitas e semelhante a tantas. Desamparo institucional, incompreensão de alguns pais, dificuldades na adaptação de toda a turma.
Estou tentando compreender o que está acontecendo ao meu redor. Antes disto não conseguirei parar para desenvolver alguma arquitetura, pois neste instante recolho dentre os escombros de um terremoto as chances para um trabalho digno, respeitoso e que contemple a tarefa de alfabetizar toda a turma até o final do ano.
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