Em nossa eterna aprendizagem na escola da vida somos avançados mesmo quando não compreendemos muito bem a lição, isto porque, em minha opinião, as provas pela quais passamos vão além da escrita, bem aquém da vocalizada. Nossas provações são diárias e nosso plano sempre é flexível porque não coordenamos os ruídos da vida.
Pensando nisto percebi como são bonitas as descobertas, mesmo quando posteriores aos fatos. A constante reciclagem de estudos eleva nossa mente à sanar e recuperar aqueles conteúdos debilitados. Um exemplo disto foi a passagem que resgatei através da disciplina de Literatura. No estudo sobre os Contos de Fadas senti a necessidade de aprofundar meus conhecimentos acerca dos contos existentes, ou dos mais lidos. Conheci a história de uma princesa que usava uma pele de asno para cobrir o corpo, fugira de seu castelo por causa do pai e encontrara a felicidade casando com um príncipe encantado sempre recebendo conselhos de sua Fada Madrinha (A Fada dos Lilázes).
Certa vez uma aluna da quarta série comentou sobre esta história que tinha lido (tínhamos uma caixa de leituras na sala) e ela me falou que a história era muito parecida com a vida da sua irmã que tinha na época 16 anos e era mãe de um bebê. Achei legal a identificação e ficou por isso porque não fui humilde o suficiente, ou mais atenciosa, para dizer que desconhecia a história e entender as semelhanças.
O fato é que a princesa fugiu por estar sendo pressionada pelo Rei a casar-se com ele. O pai queria ter a filha como mulher e por isto fazia todos os desejos dos vestidos mais impossíveis serem fabricados, até chegar ao ponto da princesa solicitar um vestido da pele de um asno que estava na estrebaria do castelo e que era a fonte da riqueza do Rei. Tamanho era o desejo do pai pela filha que o animal fora abatido e dele surgiu o vestido.
A irmã de minha aluna tinha necessidades especiais e ninguém questionava muito a criança. O que as pessoas não sabiam era de que o filho dela surgiu do relacionamento com o próprio pai (não padrasto!) e que minha aluna estava passando por isto também. A mãe sabia, o pai sabia, mas a casa e a comida falaram mais forte. Agora a escola sabia e a nós coube fazer o que a Lei permitiu (e não foi grande coisa). Percebo como foi rica a análise de minha aluna na época. O desejo do pai opressor, a fuga, a busca pela felicidade e a partir da história tinha em sua realidade a espera pelo príncipe encantado. Se pudesse voltar no tempo faria bem mais por ela, talvez nã conseguisse ser a Fada dos Lilázes, mas alguma imagem real de um Conto de Fadas achado para ser uma espera na vida.